quarta-feira, junho 25, 2008

O Oriente em contexto Omíada, por volta do Século VIII


Porque Razão é Tão Difícil estudar a Antiguidade Tardia e o Início da Islamização em Alcácer?


A resposta a esta questão parece fácil, se afirmarmos que falta documentação Arqueológica e Historiográfica.
Até certo ponto este dado é coerente com a realidade actualmente disponível, se tomarmos como comparação, a Fase ulterior do Alto Império e como limite inferior, a Fase Tardo-Islâmica.
Para facilitar ainda mais esta análise, poderemos arrumar a questão e inserir o âmbito cronológico que grosso modo tem início no século III d. C até ao final do século XI, denominando-os de “Séculos obscuros de Alcácer”.
Este apanágio não é “imagem de marca” de Alcácer.
A Antiguidade Tardia e a Fase Emiral, continuam a diferentes níveis a serem os parentes pobres da investigação em Portugal, apesar de existirem alguns “oásis documentais”, nomeadamente em Mérida, Mértola, Braga ou Lisboa.
E em Alcácer, qual é o panorama actualmente identificado?
Se tomarmos o Período Romano como um todo, verificamos que o Alto Império em Salacia possui uma expressão arqueológica notável, encontrando-se por todo o lado: - Dentro do castelo, na área Periurbana, na Ribeira e no espaço rural, desde o Torrão até ao estuário do Sado.
Após o século II, notamos um decréscimo abrupto na informação arqueológica, especialmente dentro do recinto amuralhado.
Contudo, é em espaço rural que a documentação arqueológica ganha alguma expressão.
Após o século V, a documentação é tão escassa, que um olhar desatento poderia sugerir um abandono populacional do território alcacerense.
Como frisamos, a documentação arqueológica Alto Imperial em Alcácer é importante, contudo em termos de resenha histórica o silêncio é paradoxalmente quase total. Conhecemos o povoamento, a cultura material, mas falta-nos o nome dos personagens históricos em termos do convento pacensis.
Para a Antiguidade Tardia, a situação inverte-se. Conseguimos recuperar a resenha histórica em termos regionais, dar rosto à evolução política, conhecer nomes, mas falta-nos muitos elementos sobre a estrutura de povoamento, hierarquia e economia.
O panorama agrava-se imenso, quando se atinge os séculos VII e o VIII.
Sabemos hoje, que em Salacia existia alguma população e que o culto aos mártires hispânico de Complum, Justo e Pastor junto ao Torrão, estava activo nas vésperas da conquista islâmica da Hispânia em 711.
O século VIII, início da presença islâmica, continua uma questão mal resolvida em Alcácer, pelas contradições documentais que encerra a problemática da mudança toponímica de Salacia para al-Qasr.
É este o cerne da questão!
Se como já foi provado documentalmente, existe continuidade habitacional em Salacia na altura da conquista islâmica, porque razão foi imposto uma nova denominação toponímica pelo novo poder islâmico.
Em termos documentais o que é que esta postura política significa?
Ou pondo a questão de uma forma mais clara:

- Se Lisboa, Évora, Setúbal, Beja, Coimbra, etc mantiveram as antigas denominações tardo-romanas, porque razão, não aconteceu o mesmo em Salacia, que também era habitada na altura?
Pensamos que a resposta encontra-se no topónimo que é escolhido – al-Qasr.
Segundo a leitura tradicional, al-Qasr deriva da palavra latina de Castrum, alusivo ao Limes Romano da fronteira Síria, que durante séculos serviram para conter o expansionismo dos herdeiros Neo-Persas dos Seleucidas: - Primeiro, o Império Parto e depois os Sassânida, ambos sediados na Mesopotâmia e Planalto Persa, incluindo o Afeganistão.

Mas o termo al-Qasr, foi depois atribuído às construções áulicas Omiedas da estepe Síria/Jordana, numa tradição continuada após 750 pelos Abássidas.
Em meados do século VIII, a quase totalidade dos Qasr(Plural Qusur) conhecidos, localiza-se no próximo Oriente e estão ligados ao poder Califal, guardados pelo aparelho militar.
E no nosso caso, o que significa al-Qasr?
Em síntese, estamos a crer, que a mudança toponímica, do nome romano para o nome árabe foi uma decisão política muito importante.
Significa a força e a afirmação do “ramo militar" do novo poder islâmico no Garb, num prolongamento natural da delegação do poder central instalado em Beja (nome árabe adaptado de Pax).
Para nós isso só será coerente após a instalação do Jund/Exército do Mirs/Egipcio em Beja.
Em síntese, procurando não alongar mais esta questão que tem que ser mais desenvolvida, defendemos a seguinte leitura:

1 - Salacia encontra-se ainda habitada no século VIII, quando se dá a conquista islâmica da Hispânia.

2 - Após uma fase de autonomia inicial dentro de um pacto estabelecido entre muçulmanos e tardo-romanos, a situação altera-se após a atribuição do território de Beja ao Jund do Mirs, após 740.

3 -A base económica deste corpo militarizado é a cobrança de imposto dentro das regiões atribuídas pelo poder central.
4 - A manutenção dos nomes romanos das cidades à volta de Alcácer, caso de Lisboa, Évora, etc e a escolha de al-Qasr em vez de Salacia, só tem sentido, se isso significar que esta praça forte foi escolhida para sede militar islâmica junto ao atlântico, transformando-se num enclave puramente islâmico, encravado num vasto território habitado maioritariamente por Tardo-Romanos. Trata-se de uma prática muito corrente no litoral da Palestina, neste caso em relação à população cristã Bizantina.

5 - Al-Qasr após 844, vai manter a sua função militar, contudo irá evoluir de praça militar sinónimo de recolha de imposto, para praça militar de tipo ribat para defesa da costa do Garb em contexto emiral, desta vez para fazer face aos ataques vikings.

6 - Resumidamente, defendemos que a escolha de al-Qasr/Alcácer em vez de Salacia, tem a ver com uma decisão politica de natureza militar, coerente com as novas funções desta praça forte, que vai dar coerência à militarização da costa oceânica após 844 (data do primeiro ataque viking à costa portuguesa) e antes da chegada dos Banu Danis.

7 - Deste modo, a mensagem toponímica, al-Qasr, significa o Castrum/Praça Forte, coerente com as novas atribuições que assume ao longo do primeiro século de islamização.
8 - Alcácer é um topónimo forte, que transmite poder militar. Talvez seja esse a razão pela qual o topónimo sobreviveu ao longo dos séculos e foi deliberadamente mantindo após a conquista portuguesa de 1217, apesar do corpo eclesiástico português saber que o seu nome latino era Salacia.

segunda-feira, junho 23, 2008

A Península da Arábia, na Fase Pré-Islâmica



A ESCRITA DA HISTÓRIA DE ALCÁCER EM CONTEXTO ISLÂMICO:

Uma Questão de Metodologia.


Um anónimo questionou-nos porque razão temos privilegiado o estudo de Alcácer em contexto Almóada, que só durou 26 anos, em contraste com uma presença islâmica que teve início em meados de VIII?
Trata-se de uma questão interessante, que merece uma reflexão.
A questão posta desta forma, parece sugerir que para nós, os 26 anos de presença Almoada em Alcácer terão sido mais importantes que a restante presença islâmica de mais de 4 séculos, subdividida em Pré-emiral, Emiral, Califal, I Taifas, e Almorávida!
Queremos afirmar que para nós são muito importantes esses 449 anos de presença islâmica nesta cidade; - se tomarmos como referência o seu início em 711 (como referência) e o seu término em 1160 (1ª Conquista Portuguesa).
Ou seja, os 26 anos de presença Magrebina em Alcácer não são mais importantes que os 449 anos ulteriores. Todas as fases são fundamentais para compreender a História desta cidade.
Assim sendo, porque razão persiste esta produção historiográfica tão desigual, até este momento?
O que está em causa é unicamente uma questão de metodologia de trabalho, que efectua uma gestão e análise da documentação disponível, que chegou até aos nossos dias, tendo como base unicamente a cidade de Alcácer.
O que pretendemos não é escrever a História do Garb al-Andalus. O que procuramos é investigar a História de Alcácer e da sua região mais próxima, seja em que contexto for; - romano, bárbaro, islâmico, moderno, etc.
Sabemos que o desafio é complexo. Que falta um longo caminho a percorrer, seja ele no domínio da arqueologia ou da historiografia.
O que queremos evitar é tirar conclusões precipitadas e simplistas em relação a esta medina.
Tomemos como exemplo algumas das ideias básicas sobre Alcácer anteriores a 1993, anos em que em conjunto com João Carlos Faria e Cavaleiro Paixão começamos o nosso trabalho de investigação.
Na impossibilidade de referir todos os autores, vou só referir alguns.

Segundo José Garcia Domingues, escrito em 1960 (sic):[1]:

Al-Qasr Abu Danis – Al-Qasr al-Fath (Alcácer do Sal)
Alcácer, na zona da velha Salacia, teve na época dos árabes, os nomes de Al-Qasr Abu Danis e Al-Qasr Al-Fath (o Castelo de Abu Danis, o Castelo da Vitória)
Era conhecida pelo nome de Abu Danis, porquanto, no fim da revolta dos muladis, o Califa ´Abd Ar-Rahman III a entregou a um tal Yahia Ibn Abi Danis, ao mesmo tempo que entregava o castelo da montanha próxima a um irmão deste, ´Abd Allah Ibn ´Umar Ibn Abi Danis.
Mais tarde, a designação de Al-Fath parece ter provindo da memorável vitória que aí obteve o Califa almóada Ya´qub, que a arrancou aos portugueses.
Alcácer tinha os campos em volta cobertos de pinheiros. Nas suas terras havia muito gado e, consequentemente, carne e leite. Junto ao rio estavam activos os estaleiros. Era um centro comercial de primeira ordem.
Entre Alcácer e Lisboa ficavam dois castelos: o de Balmalla (Palmela) e o de Almada. Já então devia existir o castelo De Sesimbra, tomado por D. Afonso Henriques.

(Comentário – Tendo em conta o acesso que este historiador, ainda hoje importante, teve a obras de importantes autores muçulmanos medievais, poderia ter inserido mais dados, nomeadamente os elementos fornecidos por al-Idrisi, que não se encontram inseridos neste seu texto. O seu interesse parece concentrar-se em Lisboa, Santarém e Algarve. Lamentamos que ele não tenha dedicado parte da sua investigação a Alcácer, como fez para Lisboa, Silves, Loulé ou Tavira)

De 1960 e até à década de 80 do século passado, pouco ou nada foi escrito sobre Alcácer em contexto islâmico.
Em 1992, Santiago Macias[2] afirmava num texto sobre a evolução política no Ġarb al-Andalus, que Alcácer do Sal nunca terá sido sede de território autónomo, estando debaixo da influência de Lisboa , Beja ou de Évora.
Contudo, num texto mais recente, editado em 2007, referente à sua tese de doutoramento sobre Mértola,( Mértola, o último porto do Mediterrâneo) evolui as suas análises em relação a Alcácer:

- Considera Alcácer (p. 54, Vol I) uma cidade em contexto emiral, ao lado de Lisboa, Badajoz, Évora e Silves.
- Curiosamente, evita reflectir muito sobre Alcácer, privilegiando a análise do eixo, Silves, Beja Évora, Mértola, saltando por vezes até Lisboa e Santarém.
- Em relação a Alcácer (ob. Cit. P. 67), reconhece que esta cidade em contexto Waziri (SIC) “...na prática constitui a chave tanto para o vale do Sado, o rio de Alcácer, que conduz à Serra do Algarve e a Silves e para a vasta peneplanície de Beja e para o acesso a Sevilha”.
- Frisa que Alcácer do Sal é um território autónomo, entre Lisboa e Beja, que inclui a serra da Arrábida e Palmela no seu espaço, contudo prefere não adiantar muito mais. (Ob. Cit., p. 77).


Curiosamente, são alguns investigadores estrangeiros, aqueles que reconhecem a importância a Alcácer em contexto islâmico, nomeadamente:

- Adel Sidaros[3], Abdallah Khawli[4] e Christophe Picard[5].

Contudo, a persistência da ideia que Alcácer é uma fundação islâmica sobre um sítio abandonado podemos ler em alguns trabalhos de outros autores, que não se encontram actualizados em relação aos últimos contributos[6].

Até ao ano de 2000, a História dos 500 anos de presença islâmica em Alcácer resumiam-se a poucas páginas.
Em síntese, afirmava-se sempre as mesmas leituras que já vinham “grosso modo” do tempo de Alexandre Herculano (Século XIX), ou seja:

- Que estávamos perante uma fundação islâmica sobre um local abandonado. Que tinha sido fundada pelos Banū Danīs em finais do século IX. Em 997 serviu de base naval do Califado às ordens de Ibn Āmir para o ataque à Galiza. Frisava-se que nunca tinha sido sede de Taifa, mas reconhecia-se que era detentora de um território para efeitos administrativos. Depois saltava-se para 1158 ou 1160, ano da 1ª Conquista Portuguesa, 1191 para a recuperação islâmica e 1217 para a conquista definitiva.

Em 2004, com a publicação da nossa breve monografia sobre Alcácer Islâmica[7], o panorama começou a mudar.
Notamos neste momento, por parte de outros investigadores uma maior prudência em relação ao papel de al-Qaṣr, reconhecendo que esta medina foi centro de um território, sendo actor activo da evolução histórica no âmbito específico do Garb, mas também detentora de alguma projecção no Andalus.

Por estes motivos (a evolução desta medina islâmica, de actor meramente passivo, destituido de autonomia, para um papel de liderança no Garb), autoriza-nos a avançar com cuidado nas nossas análises, de forma a evitar conclusões precipitadas.
Por este motivo, achamos adequado em termos de metodologia, investigar os períodos que tem fornecido mais documentação, seja ela de natureza arqueológica ou historiográfica.
É esta a explicação pela nossa opção estratégica, pela Fase Almóada.
Outras fases ulteriores serão abordadas, desde que os elementos disponíveis sejam os adequados para uma análise histórica.
Em jeito de conclusão, desejamos que fique expresso que apesar de o Período Almóada ser interessante, vamos começar a abordar outras fases da História Islâmica desta cidade.
Se em contexto Almóada ou Almorávida, o nosso espaço preveligiado de análise encontra-se no Norte de África, em contexto Emiral e Califal, somos obrigados a olhar para o Próximo Oriente e para as estruturas Imperiais Bizantinas e Sassânidas.
Deste modo chegados a um interessante paradoxo em relação a Alcácer, nos primórdios da ocupação islâmica:
- Segundo os dados disponíveis, terá sido uma praça-forte de cultura árabe em território moçárabe, que se vai culturalmente (ao nível da elites) tornar-se Berbere Masmuda...
São estas as questões que temos que analisar.
Inexplicávelmente, a História de Alcácer em contexto islâmico tem estado na sombra, não recebendo muita atenção por parte de outros investigadores.
Actualmente o panorama começa a mudar. Começa a existir muita curiosidade sobre esta medina islâmica, que após a conquista definitiva, foi escolhida para Sede do Ramo Português da Ordem de Santiago.
Porque razão foi escolhida Alcácer em vez de Palmela, ou outra terra para sede, não sabemos mas podemos avançar algumas hipoteses. Talvez a chave esteja no pensamento deste apóstolo, analisado à luz da época. Como tenho referido mais que uma vez, a religião faz parte do quotidiano e em termos de metáfora"come à mesa". Por isso é fundamental ler o Corão (as suras, as escolas, etc) e a Biblia, para entender melhor este Periodo.
A titulo de exemplo, apresento de modo aleatório, dois pensamentos, um cristão e outro islâmico:
Tiago 4:14 - No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. O que é a vossa vida? Sois uma neblina que aparece por um pouco, e logo se desvanece.
Ibn ´Arabi (Tradução livre retirado da obra Futuhat) - "... a escrita é o abraço (damm) de uma ideia (ma´nà) com outra, o qual só se produz quando as ideias são depositadas em letras e palavras (...). O abraço entre as letras chama-se escrita. Se os esposos não se unem, não fazem amor (nikat), e fazer amor é escrita (wa-l-nikat kitaba). Todo o mundo é um livro escrito porque está ordenado em páginas que se unem umas com as outras, e as lombadas unem-se em todas as situações. Isto se complementa com a aparição perene de essencias, e não existe creador de nada até que ama crear essa coisa. Todo o que existe é por ter sido amado, e só os que terão amado existem..."
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[1] O Garb Extremo do Ândalus e “Bortuqal” nos Historiadores e Geógrafos Árabes, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Junho-Dezembro, 1960 (In Portugal e o Al-Andalus nº 2, Estudos Árabes, p. 101, Ed. Hugin, 1997)
[2] Santiago Macias (1992). Resenha dos Factos Políticos. História de Portugal, dir. José Mattoso, Vol. I, coordenado por José Mattoso, Lisboa, Círculo dos Leitores, p. 417-429.
[3] (1988-1993)“Um texto árabe do século X relativo à nova fundação de Évora e aos movimentos muladi e berbere no Ocidente Peninsular, A Cidade de Évora, XLV-L/71-76, p. 7-37.
[4] Deve-se a este investigador, a renovação que estamos a fazer sobre a história de Alcácer em Contexto Islâmico. Khawli (2001). Le Garb al-Andalus à l´Époque dês Secondes Taifas (539-552/1144-1157), Revista Arqueologia Medieval Nº Actas do Colóquio “ Lisboa – Encruzilhada de Cristãos, Judeus e Muçulmanos “, 1997. Arqueologia Medieval, nº 7, p.23-35, Porto.
[5] Em relação a este investigador francês, notamos uma evolução em relação a Alcácer. De uma postura inicial de só aceitar uma leitura directa dos textos islâmicos, sugerindo que Alcácer tinha sido fundada pelos Banū Danīs em finais do século IX, em trabalhos mais recentes já aceita uma presença islâmica anterior, que poderá ser a continuação do povoado desde a Antiguidade Tardia, seguindo as nossas leituras, com base na arqueologia. Podemos referir os seguintes trabalhos: (2000) Le Portugal Musulman (VIII-XIII Siecle). Ed. Maisonneuve & Larose. E mais recentemente (2005) Le changement du paysage urbain dans de Gharb al-Andalus (X-XIIe siécle): Les signes d´une dynamique. Actas Muçulmanos e Cristãos entre o Tejo e o Douro (Sécs. VIII a XIII). Coordenação Mário Barroca e Isabel Cristina Fernandes.
[6] A titulo de exemplo. Alain Ducellier, Michel Kaplan e Bernadette Martin (1994) A Idade Média no Oriente. Ed. D. Quixote, p. 206. (SIC) “ ...Na Andaluzia, as cidades muçulmanas são as antigas urbes. As duas únicas verdadeiras fundações são Almeria, um arsenal no litoral Mediterrânico, e al-Qasr, voltada para o Atlântico.”
[7] CARVALHO, A Rafael; FARIA, João Carlos e FERREIRA, Marisol Aires, (2004) ALCÁCER DO SAL ISLÂMICA: Arqueologia e História de uma Medina do Garb al-Andalus (séculos VIII-XIII). Ed. C. M. Alcácer do Sal e IPM. A segunda edição encontra-se no prelo e sairá ainda este ano em data a anunciar.

quarta-feira, junho 18, 2008

terça-feira, junho 17, 2008

PIMEL 2008: Debate sobre a Primeira Conquista de Alcácer aos Muçulmanos











Para apoio ao debate do dia 21 de Junho, a partir das 17:00 e até às 20:00, referente ao Tema: - 850 anos da Conquista de Alcácer do Sal por D. Afonso Henriques, encontra-se disponível no site do Municipio de Alcácer do Sal um texto em PDF sobre esta temática.


Os comentários ao trabalho podem ser deixados neste Blog.




segunda-feira, junho 16, 2008

Jogar Xadrez, à 8 Séculos atrás!







É provável que o xadrez fosse praticado em al-Qasr/Alcácer, contudo faltam-nos provas arqueológicas seguras.
Segundo as iluminuras apresentadas, o jogo seria praticado pelas elites e quase sempre por homens, pelo menos em contexto islâmico. (Livro do Xadrez..., de Afonso X, século XIII, Biblioteca do Escorial)
Em termos de documentação arqueológica, o jogo que deixou mais vestígios em Alcácer, corresponde ao denominado "Alquerque de Nove". Jogo de origem romana e que ainda hoje é praticado. Possui variadas denominações, nomeadamente como o "Jogo do Moinho".

sexta-feira, junho 13, 2008

Para quem Investiga em Arqueologia Medieval Islâmica e Cristã

Tem à sua disposição a consulta on-line em open acess de artigos em PDF, publicados pela Universidade de Jaen.


http://www.ujaen.es/revista/arqytm/index.html

segunda-feira, junho 02, 2008

Estudos Recentes Sobre Alcácer do Sal: Contexto Islâmico

Em actualização, 2008



(1) CARVALHO, A Rafael e FARIA, J. Carlos. (1993) CERÂMICAS MUÇULMANAS DO MUSEU MUNICIPAL DE ALCÁCER DO SAL. Arqueologia Medieval, Nº 3, pp. 101-111. Porto.

(2) CARVALHO, A Rafael e FARIA, J. Carlos. (2001) FRAGMENTO DE UM TABULEIRO DE “ ALQUERQUE DE NOVE “, PROVENIENTE DO CASTELO DE ALCÁCER DO SAL. (2001) Arqueologia Medieval. Nº 7, pp. 211-215.

(3) CARVALHO, A Rafael; FARIA, João Carlos e FERREIRA, Marisol Aires, (2004) ALCÁCER DO SAL ISLÂMICA: Arqueologia e História de uma Medina do Garb al-Andalus (séculos VIII-XIII). Ed. C. M. Alcácer do Sal e IPM.


(4) CARVALHO, A Rafael; FARIA, João Carlos e FERREIRA, Marisol Aires, (2008) (Al-Qasr) ALCÁCER DO SAL: Arqueologia e História de uma Madina do Garb al-Andalus (séculos VIII-XIII). 2ª Edição. Ed. C. M. Alcácer do Sal (prelo).

(5) CARVALHO, A Rafael (2004) ALGUNS ASPECTOS DE ALCÁCER NO FINAL DO PERÍODO MUÇULMANO. Neptuno, nº 2, páginas 5-6. ADPA.

(6) CARVALHO, A Rafael (2005) ALCÁCER DO SAL ENTRE 1191 E 1217 (I PARTE). Neptuno, nº 3, página. ADPA.

(7) CARVALHO, A Rafael (2005) ALCÁCER DO SAL ENTRE 1191 E 1217 (II PARTE): O Papel do Hisn Turrus/Castelo do Torrão, no sistema defensivo Alcacerense. Neptuno, nº 5, página 5 - 7. ADPA.

(8) CARVALHO, A Rafael (2005) ALCÁCER DO SAL ENTRE 1191 E 1217: Os dias em que al-Qasr al-Fath foi sede do império Almóada. Neptuno, nº 6, página 12 - 13. ADPA.

(9) CARVALHO, A Rafael (2005) FRAGMENTOS DE MINIATURAS EM CERÂMICA PROVENIENTES DO PALÁCIO ALMÓADA DE ALCÁCER. Al Madan nº 13, Centro de Arqueologia de Almada, páginas 148.

(10) CARVALHO, A Rafael (2006) O SANTUÁRIO DO SENHOR DOS MÁRTIRES EM CONTEXTO ISLÂMICO: Alguns elementos para o seu estudo. Neptuno, nº 7, página 4 - 6 ADPA.

(11) CARVALHO, A Rafael (2006) A REPRESENTAÇÃO ICONOGRÁFICA DO SENHOR DOS MÁRTIRES E ALCÁCER DO SAL NO SÉCULO XIII. Neptuno, nº 8, página 6-9 ADPA.

(12) CARVALHO, A Rafael (2006) CERÂMICA DO PERÍODO ZIRIADA EXUMADA NO CASTELO DE ALCÁCER DO SAL: Elementos para o seu estudo. Al Madan nº 14, Centro de Arqueologia de Almada, páginas 152-153.

(13) CARVALHO, A Rafael (2006) UM DIRHAM ALMÓADA ENCONTRADO EM ALCÁCER DO SAL: Elementos para o seu estudo http://alcacer-islamica.blogspot.com/search/label/Qasr%20al-Fath (Consultado em 08-06-2007)


(14) CARVALHO, A Rafael (2006) FRAGMENTO DE JARRA ESGRAFITADA DE TÉCNICA MISTA, ENCONTRADA EM ALCÁCER. http://arqueoalcacer.blogspot.com/2006/08/fragmento-de-jarra-esgrafitada-de.html



(15) CARVALHO, A Rafael (2007) UM OLHAR SOBRE AS ORIGENS DE PALMA/ALCÁCER DO SAL. Neptuno, nº 1O, páginas 2-5. ADPA.

(16) CARVALHO, A Rafael (2007) O BAIXO SADO, DA ANTIGUIDADE TARDIA ATÉ À FASE EMIRAL: Algumas reflexões sobre continuidades e rupturas. Subsídios para o estudo da História Local. Vol. 3, Anos 2004 e 2005. Páginas 303-318, Ed. Câmara Municipal de Setúbal e Rede Portuguesa de Museus.

(17) CARVALHO, A Rafael (2007) A TORRE MEDIEVAL DE SANTA CATARINA DE SÍTIMOS: Elementos para o Estudo do Sistema Defensivo de Alcácer do Sal em Contexto Almóada. Al Madan nº 15 http://www.almadan.publ.pt/AdendaElectronica%20(geral).htm

(18) CARVALHO, A Rafael (2007) AL QASR: A Alcácer do Sal Islâmica. Roteiro – Cripta Arqueológica do Castelo de Alcácer do Sal. Edição IPPAR , pp. 43-56.

(19) CARVALHO, A Rafael (2007) ALCÁCER: Alcácer do Sal Medieval e Cristã. Roteiro – Cripta Arqueológica do Castelo de Alcácer do Sal. Edição IPPAR , pp. 57-68.



(20) CARVALHO, A Rafael (2008). A MULHER ALCACERENSE: Em contexto Islâmico Tardio (Séculos XI-XIII). Alcácer Terra de Deusas. Edição on-Line. Municipio de Alcácer do Sal.http://www.cm-alcacerdosal.pt/PT/Actualidade/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinetedeArqueologia.aspx pp. 29-37.



(21) CARVALHO, A Rafael (2008) ASPECTOS DO QUOTIDIANO EM ALCÁCER, EM CONTEXTO ISLÂMICO, Neptuno 13 (Prelo)



(22) CARVALHO, A Rafael (2008) ALCÁCER NO FINAL DO PERIODO ISLÂMICO (SÉCULOS XII-XIII): Novos Elementos sobre a 1ª Conquista Portuguesa. Col Digital - Elementos para a História de Alcácer Nº 1. Edição Município de Alcácer do Sal. http://www.cm-alcacerdosal.pt/PT/Actualidade/Publicacoes/Paginas/EstudosdoGabinetedeArqueologia.aspx

(23) PAIXÃO, A Cavaleiro; FARIA, J. Carlos e CARVALHO, A Rafael. (1994) O CASTELO DE ALCÁCER DO SAL: Um projecto de Arqueologia Urbana. Actas do II Encontro de Arqueologia Urbana/ Braga, pp. 215-264.

(24) PAIXÃO, A Cavaleiro; FARIA, J: Carlos e CARVALHO, A Rafael. (2001) CONTRIBUTO PARA O ESTUDO DA OCUPAÇÃO MUÇULMANA NO CASTELO DE ALCÁCER DO SAL: O Convento de Aracoelli. Actas do Colóquio “ Lisboa – Encruzilhada de Cristãos, Judeus e Muçulmanos “, 1997. Arqueologia Medieval Nº 7, pp. 197-209.

(25) PAIXÃO, A Cavaleiro e CARVALHO, A Rafael, (2001) CERÂMICAS ALMÓADAS DE al-Qasr al-Fath. Actas do Encontro sobre Cerâmicas Muçulmanas do Garb al-Andalus. Ed. IPPAR e da Junta de Estremadura, pp. 198-229.

(26) PAIXÃO, A Cavaleiro; FARIA, J. Carlos e CARVALHO, A Rafael, (2002) ASPECTOS DA PRESENÇA ALMÓADA EM ALCÁCER (PORTUGAL) Mil anos de Fortificações na Península Ibérica e no Magreb. (500-1500): Actas do Simpósio Internacional sobre Castelos – Palmela. pp. 369-383, Colibri e C M Palmela
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domingo, junho 01, 2008

A Escrita da História em Alcácer: O Contexto Islâmico

A representação da Guerra no al-Andalus, no Século XIII, segundo as Cantigas de Santa Maria de Afonso X.

Existem várias posturas metodologicas para a produção historiográfica, que definem limites e objectivos, dentro de "Escolas".
Não vou entrar por aí. Apesar da sua discussão ser importante, considero que foge deste patamar de reflexão.
Pela minha parte, na minha produção historiográfica, tenho procurado dentro dos possível elaborar textos simples.
Na realidade, não estou interessado em "complicar o Discurso explicativo" das questões historiográficas que costumo abordar
Mas reconheço, que ultimamente, caso do artigo sobre a Mulher Islâmica, inserido no trabalho " Alcácer Terra de Deusas", tenho enveredado pela utilização de termos derivados da língua árabe. Se efectivamente queremos saber o que aqui se passou nessa época, em termos metodológicos, é difícil fugir.
Para uma maior aproximação à verdade histórica, o ideal até seria escrever essas palavras na grafia Árabe, porque era a lingua aqui falada em Alcácer. Como tenho conhecimentos básicos de lingua árabe e há muito tempo não treino a prática da escrita e leitura, vou antes ficar pelas transliterações.
A titulo de exemplo:
- Utilizo o termo Lamtuna (tribo Saaariana da actual Mauritânia) para me referir aos Almorávidas. Desta forma, os alcacerenses apercebem-se que soldados e dirigentes de tribos berberes do deserto do Saara estiveram à frente do governo de Alcácer pelo menos entre 1094 e 1146. Esses berberes que aqui viveram, eram descendentes de condutores de caravanas de camelos no deserto Saariano, desde o rio Senegal (norte de Dakar) até às cidades conquistadas ao Império Negro do Gana, até ao rio Niger.
Há um ponto que é importante frizar:
- Os muçulmanos não se consideravam todos iguais entre si. Em contexto islâmico penínsular do al-Andalus isso é claramente vísivel nas fontes.
Os imperios Magrebinos dos Almorávidas/Lamtusa e dos Almoadas/Masmudas sempre foram vistos como estrangeiros e em termos despreciativos, como pastores de camelos.
O soberano Taifa Abássida/Sevilha, quando foi interrogado pelo seu filho, porque solicitava o apoio militar dos Lamtuna, ciente do perigo que isso poderia representar para ele, respondeu:
-Prefiro ser pastor de camelos no deserto do Saara do que guardar porcos em Castela.
Mas nem todos pensavam assim. No nosso caso, os alcacerenses em 1158, solicitaram a protecção do reino de Portugal, pagando para isso um imposto, que foi determinado num acordo celebrado entre os dois soberanos:
- Ali b. Wahibi pelos alcacerenses e D. Afonso Henriques pelos portugueses.
Quando este acordo acabou, com o assasinato de Ali b. Wahibi, pelos alcacerenses saturados de pagarem muitos impostos, é que o rei português consumou a conquista de um território que na prática já considerava como seu, como é demonstrado pelos "Anais de D. Afonso Henriques" que lacónicamente e pouco à vontade fala da conquista portuguesa de 1158.

Noiva Berbere de uma tribo do Atlas.

No caso dos berberes Saarianos, como por exemplo, no caso das tribos que suportavam o aparelho militar dos Almorávidas, só os homens é que tinham o direito a taparem o rosto. As mulheres Lamtuna pelo contrário, nunca tapavam o rosto, participavam activamente na política, a ponto de algumas delas orientarem as políticas seguidas e como se não bastasse, os clâs eram definidos pelo ramo feminino, caso dos Banu Fatima, etc, o que confundia as práticas culturais andalusas.

A prática masculina saarauí de tapar o rosto, tem a ver com o facto de os homens, como condutores de caravanas de camelos, usarem isso como defesa contra as frequentes e letais tempestades de areia.

Quando chegaram ao andalus, os clãs berberes Mauritanios, mantiveram essa prática como destinção cultural, para não serem confundidos com os muçulmanos do Andalus. Por isso ganharam a alcunha dos os "velados".

Como seria representada a conquista de Alcácer na iconografia da Época? O Exemplo Francês

«Representação de Luís VII, rei de França, no decurso do cerco de S. João de Acre, no litoral actual da Palestina/ Israel»
©Bibliotheque Nationale de France
A existir uma representação iconográfica da Conquista de Alcácer em 1217, no decurso da 5ª Cruzada, é provável que o resultado final fosse semelhante a este.
Os cruzados seriam representados no interior de barcos, em posição de ataque, enquanto na defensiva, estariam os muçulmanos, dentro das muralhas.
Fosse interessante ou não, o público que tinha acesso a estas crónicas, as classes previligiadas da realeza, nobreza e clero, estariam mais interessado no desenrolar da acção.
Os pormenores de enquadramento geográfico eram quase sempre omitidos, ou então, descritos de forma tão lacónica, que ainda hoje temos dificuldade em reconstruir os cenários do conflito, como é o caso paradigmático dos vários Carmens/Relatos da conquista de Alcácer nesse ano de 1217.
Não se tratava de um problema do lado cristão, porque os relatos muçulmanos também seguem o mesmo padrão.
Quem supõe que o trabalho de Historiador e Arqueólogo é fácil, está enganado. A questão de base, não se resume ao acesso e selecção da documentação.
O desafio está em fazer falar esses dados, mudos à partida, porque não foram elaborados para fazer História, mas sim para fixar para memória futura, aquilo que se achava mais adequado à luz da época.
O nosso desafio é efectivamente saber ler, interpretar as fontes, para depois "escrever", em todos os patamares de exposição, consuante os vários públicos, consumidores de História de Alcácer.
Outro desafio que temos é a ausência de uma História de Alcácer, desde o I Milénio a. C. até ao presente.
Não se iludam. Ninguem a vai escrever para nós.
É esse o nosso desafio e podem crer que nunca será terminado.
Pela minha parte vou preveligiar o Periodo Islâmico e o Medieval Cristão.
Não quero com isto sugerir que existe periodos melhores ou menos atrativos em Alcácer, nestes 3 Milénios de presença humana aqui à beira Sado.
Considero tão importante investigar o quotidiano de aulico do Qasr/palácio em contexto islâmico ou durante o Mestrado de determinado Mestre da Ordem de Santiago, como recuperar os cantares populares da monda do arroz do século passado e entrar no quotidiano difícil aqui vivido. Mas para isso à investigadores mais bem preparados do que eu.
Nunca se esqueçam que todos os contributos são importantes.

Cantigas de Santa Maria de Afonso X.

O espaço rural e o urbano na visão do século XIII

Visão no século XIII, de uma cidade portuária em contexto islâmico,.
Iluminura do milagre Mariano, que aconteceu em Santa Maria do Algarve, actual cidade de Faro.
Alcácer não seria diferente de Faro.
Era igualmente uma cidade rodeada de muralhas, com elevada densidade de construções dentro do recinto. Junto ao rio localizava-se o espaço portuário, onde deveria habitar parte da comunidade de pescadores alcacerenses.

Uma sociedade que vivia para a guerra...

As Cantigas de Santa Maria de Afonso X: Século XIII

http://perso.club-internet.fr/brassy/PartMed/Cantigas/CSMIDI.html

Infelismente não tem a Cantiga nº 246, que é referente ao Milagre Mariano que aconteceu no Santuário de Santa Maria dos Mártires de Alcácer do Sal, no século XIII.

O Conhecimento Histórico. Vale a pena ler este artigo

O que significam as palavras escritas? O que o escritor quis dizer com aquilo quando escreveu? Por que escreveu? Quando? Como? Onde? Para quem? Na belíssima iluminura medieval acima, o bispo Virgil von Salzburg (c. 746-784) medita profundamente o texto que acaba de ler. Sua mão direita apóia seu queixo, seus imensos olhos perscrutam o livro aberto. A cena, reflexiva e contemplativa, é emoldurada por seres fantásticos e sinuosos motivos geométricos. Viena, Osterreichische Nationalbibliothek, Cod. 1224, fol. 17v.

Retirado do artigo (SIC) - O conhecimento histórico e a compreensão do passado: o historiador e a arqueologia das palavras
Ricardo da Costa (Ufes)

(http://www.ricardocosta.com/pub/conheci_historico.htm)